domingo, 5 de junho de 2011

Entrevista com Camila Mantovani

A palestrante, Camila Mantovani Domingues, que falará sobre terapia assistida por cães respondeu um questionário sobre essa atuação na fonoaudiologia:

Camila Mantovani é Fonoaudióloga Mestre pela PUC-SP (2008); Sócia-Proprietária da Clínica Decápole (2003/2009), Fonoaudióloga do Núcleo de Apoio á Saúde da Família (NASF) da Atenção Primária á Saúde Santa Marcelina (desde 2009); Autora do livro Fonoaudiologia Assistida por Cães, editora EDUC: 2010. São Paulo.

Semafon: Para que casos a terapia com cães pode ser indicada? (mencionar patologias e faixas etárias de pacientes, por exemplo). Por quê?
Camila Mantovani: A Terapia Assistida por Animais (TAA), no caso com cães, é indicada para pacientes que apresentam motivação no contato com animais. Os fatores decisivos para eleição desta modalidade enquanto recurso terapêutico são o manejo e as condições clínicas do paciente para os objetivos que se deseja alcançar. Assim, todos os casos podem se beneficiar com TAA, de crianças a idosos, patologias de grau leve a severo.

S: Quais são os diferenciais da terapia fonoaudiológica assistida por cães e que benefícios ela pode trazer ao paciente? Por quê? (Cite exemplos).
CM:Noto como característica primeira, o que estamos chamando de despatologização da cena clinica: a ausência de um discurso e corpo marcados pela doença. O ambiente, na TAA, torna-se potencializador para os processos terapêuticos. Para o fonoaudiólogo em particular, que tem a linguagem como objeto de estudo, seja verbal/gestual/escrita, trata-se de um ganho quanti-qualitativo, já que observamos o aumento dos gestos e intenção comunicativa eficientes, da comunicação verbal entre os envolvidos, da afetividade e disposição para terapia.

S: Comente sobre a relação terapeuta-paciente-cão. Como é essa dinâmica? Que características os cães possuem que nos permitem considerá-los como co-terapeutas?
CM: Considerando o cão como co-terapeuta, e esta é uma filiação teórica-prática, as relações terapeuta-paciente(s)-cão assumem diferenciar-se de instrumento e uso. O animal não está á disposição do terapeuta e paciente, mas deve ser considerado em suas expressões comunicativas, o que implica o terapeuta ter conhecimento sobre comportamento canino e preservar o seu bem-estar. Retornando as questões do manejo clínico em TAA, primeiramente, é imprescindível que o cão goste do que está fazendo. Cães co-terapeutas são testados e adaptados as situações clínicas para verificar o seu bem-estar para realização das mesmas. Características como temperamento submisso controlado, adestramento básico e boa socialização são requisitos indispensáveis.

S: Que adaptações no setting fonoaudiológico são necessárias para que seja realizado um trabalho com cães? Por quê?
CM: Em relação à estrutura física ressalto o espaço adequado, inclusive para o cão co-terapeuta se refugiar caso necessite e Kit limpeza (papel higiênico, saquinhos e anti-séptico). Já quando falamos no contrato terapêutico, questões como as condições de participação do cão; alta/separação; desejo de ter um cão e guarda responsável; são centrais e desafiadoras ao terapeuta.

S: Que características o cão devem ter para a realização deste trabalho? (mencionar temperamento e raças mais adequadas). Por quê?
CM: Enfatizo novamente que o cão, primeiramente, deve gostar do que faz; ter temperamento submisso-controlado; realizar acompanhamento veterinário e exames periodicamente, atestando suas condições de saúde; e ser avaliado em relação ao comportamento compatível com as atividades. Atualmente, alguns experimentos são realizados na tentativa de observar o impacto da escolha de raças para determinado público e/ou patologia. Observo clínicamente, corroborando relatos e estudos, por exemplo, a tendência de adolescentes, do sexo masculino, apontarem interesse por cães de grande porte e que expressão, culturalmente, certo grau de agressividade. Em trabalho com grupos de pré-adolescentes, em Unidade Básica de Saúde na periferia da cidade de São Paulo, o desejo ou a guarda de um cão das raças rottweiler ou pitbull é recorrente.

S: Como o cão pode ser treinado para a realização do trabalho com os pacientes fonoaudiológicos? É necessário adestramento especializado ou a própria fonoaudióloga pode treinar o animal?
CM: Inúmeras são as possibilidades. Ressalto que, primeiramente, o terapeuta deve ser “treinado” em conhecimento sobre cães, envolvendo linguagem canina, temperamento e comportamento. Para isso, é necessário recorrer à literatura, profissionais especializados que ministram cursos e/ou aulas com este enfoque. Partindo deste conhecimento, o cão sai da condição de instrumento como realizador de truques, por exemplo, e é considerado como atuante no processo manejado pelo terapeuta. Logo a questão do adestramento se volta a refinar a relação do terapeuta com o cão – estabelecendo liderança, por exemplo, e complementar as necessidades que a terapia vai exigir, ou seja, alguns exercícios serão apreendidos se relacionarem a situação de terapia, nem sempre identificados previamente, mas durante o processo.

S: Qual a formação necessária que o fonoaudiólogo precisa ter para trabalhar com a terapia assistida por animais, especificamente com cães?
CM: Conhecimento sobre Terapia Assistida por Animais (TAA), saúde e comportamento canino, e sobre as motivações para o trabalho com cães.

S: Faça uma breve análise sobre o cenário brasileiro na atualidade em relação à terapia assistida por animais.
CM: No Brasil hoje, a TAA é uma realidade. Encontramos inúmeros trabalhos em diversas partes do país: Organizações não Governamentais (ONGs), grupos de pesquisas em Universidades, profissionais liberais, etc. Entretanto, estamos em um momento de descoberta que exige a reflexão e empenho no aprimoramento desta modalidade terapêutica e o diálogo contínuo entre os envolvidos na produção de conhecimento acerca da TAA. É necessário ampliar a produção nacional entorno do tema para que os profissionais atuantes e futuros encontrem embasamento para prosseguir nesta escolha promissora para o bem-estar e atenção a saúde humana. No campo fonoaudiológico brasileiro, nosso trabalho é pioneiro e já colhe frutos de novos seguidores, como o trabalho da fonoaudióloga mestre Glícia Ribeiro de Oliveira com idosos e TAA.

Para saber mais, venha assistir sua palestra na IX SEMAFON!    

Comissão 2011

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