segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista com Lívia Motta!

Já mostramos uma entrevista com a Débora Brum em julho e com a Camila Mantovani em junho. Agora em agosto temos uma entrevista com Lívia Maria Villela de Mello Motta, sobre quem você poderá ler mais no post feito sobre ela. Mas, vamos a entrevista SUPER EXCLUSIVA:

SEMAFON: O que é a audiodescrição e a que tipos de materiais audiovisuais ela se aplica?
Lívia Motta: A audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional, que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em eventos culturais (peças de teatro, programas de TV, exposições, mostras, musicais, óperas, desfiles, espetáculos de dança, concertos, shows, filmes, documentários, espetáculos circenses), turísticos (passeios, visitas), esportivos (jogos, lutas, competições), acadêmicos (palestras, seminários, congressos, aulas, feiras de ciências, experimentos científicos, histórias) e sociais (casamentos), por meio de informação sonora. É uma atividade de mediação linguística, uma modalidade de tradução intersemiótica, que transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso à cultura e à informação, contribuindo para a inclusão cultural, social e escolar.

S: Que pessoas podem se beneficiar da audiodescrição? Por quê? Qual é a importância desse recurso?
LM: Além das pessoas com deficiência visual, a audiodescrição amplia também o entendimento de  pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos. Ela permite uma equiparação de oportunidades, ou seja a pessoa com deficiência visual pode assistir e entender, assistir e comentar, assistir e tecer suas considerações a respeito do filme, peça de teatro ou outro espetáculo, sem depender de um amigo ou parente para lhe explicar aquilo que não pôde compreender pela falta da visão. Com o recurso, esse público, que tem sido historicamente e culturalmente excluído das artes visuais, poderá aprender ou reaprender a apreciar este tipo de arte, e passará também a consumir produtos culturais.

S: Como a audiodescrição é realizada?
LM: A audiodescrição pode ser feita ao vivo, como em peças de teatro, óperas, espetáculos de dança, eventos acadêmicos, esportivos e outros; e também gravada, como em filmes, documentários, comerciais, vídeo clips. Tanto na audiodescrição ao vivo como na gravada, é essencial a elaboração de um roteiro que contenha todos os aspectos visuais na forma de texto para serem inseridos preferencialmente entre as falas dos personagens. São utilizados os mesmos equipamentos de tradução simultânea, fones de ouvido e retransmissores, de forma que a pessoa com deficiência visual assista aos eventos junto com as pessoas que enxergam, sem nenhuma interferência ou prejuízo para ambas.

S: Qual é o preparo necessário para ser um audiodescritor?
LM: Fazer um curso de audiodescrição para conhecer o recurso, suas especificidades e princípios,  é, sem dúvida, o primeiro passo para tornar-se um audiodescritor. Entretanto, mais do que o conhecimento teórico, o engajamento em oportunidades de prática é determinante para a consolidação do aprendido e para a formação do profissional audiodescritor. Colocar a mão na massa, elaborando roteiros para diversos gêneros de espetáculos durante e depois do curso, apresentando-os, em seguida, em instituições, escolas e outros lugares, podendo ouvir o feedback de pessoas com deficiência visual, e contando com a participação de colegas e pares mais desenvolvidos - tudo isso é essencial na formação profissional e para que possamos ter, realmente, um produto de qualidade que atenda com responsabilidade às exigências do público com deficiência visual, que há anos aguarda pela chegada do recurso.
É uma nova profissão que exige dos interessados um bom comando da língua portuguesa, conhecimento sobre a deficiência visual, senso de observação, fluência verbal, bom repertório cultural e conhecimento sobre acessibilidade cultural. Pessoas com graduação em Letras, Rádio e TV, Cinema, Comunicações, Artes Cênicas, Locução, terão mais facilidade para desenvolver as habilidades necessárias.

S: A audiodescrição é um recurso de acessibilidade recente em nosso país? Que perspectivas você vê para a área de audiodescrição com a evolução da televisão digital e outras tecnologias?
LM: O dia 1º de julho de 2011 foi um marco histórico para a acessibilidade comunicacional no Brasil. A partir desta data, passou a ser obrigatória a exibição de pelo menos duas horas de programação semanal com audiodescrição pelas emissoras de televisão abertas com sinal digital. Embora, a data tenha sido adiada tantas vezes, desde 2008, e o número de horas drasticamente reduzido - inicialmente eram duas horas diárias, ainda assim é motivo de comemoração.
A televisão é, sem sombras de dúvidas, a maior fonte de entretenimento do brasileiro, considerando que em 95,7% dos domicílios brasileiros existe pelo menos um aparelho de TV, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2009.   
Além de promover o acesso à informação, cultura e entretenimento para milhares de pessoas, a entrada da audiodescrição na televisão abrirá novas possibilidades, fazendo com que mais e mais pessoas conheçam e percebam sua relevância para a inclusão cultural, social e escolar da pessoa com deficiência visual.
Entretanto, muitas pessoas ainda não têm acesso à tecnologia digital, o que impede a recepção da audiodescrição, causando frustração e ansiedade para o grande público com deficiência visual, que tão ansiosamente aguardava por esse momento.

S: Na sua opinião, como os fonoaudiólogos podem utilizar a audiodescrição no trabalho com cegos e pessoas com baixa visão?
LM: Os fonoaudiólogos  muito poderão contribuir para a disseminação do recurso, considerando que preparam profissionais da voz, trabalham em escolas e instituições com professores, famílias, pessoas com e sem deficiência, estão inseridos em equipes multidisciplinares.
Jornalistas, locutores, apresentadores, comentaristas, profissionais de comunicação em geral, ao conhecerem o recurso e seus benefícios e ao se darem conta que aquilo que fazem e apresentam precisa também chegar a outros públicos e não somente ao público que enxerga, poderão incluí-lo em suas práticas cotidianas. Verbalizar, transformar em palavras aquilo que está sendo exibido em imagens será essencial para a compreensão e  a equiparação de oportunidades. Da mesma maneira, professores e familiares poderão refletir sobre a importância de práticas mais descritivas.
 figuras: Lívia Motta no lançamento de seu livro.

Comissão 2011

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